Thursday 20 December 2007

Feldspatos (in)voluntários


Pedras da calçada, debaixo dos meus pés.
Testemunhas inverosímeis de épocas transactas.
Pedras de muralhas, com sangue como cimento, feldspatos voluntários de crenças ou vontades passadas. Bravuras construtoras de futuros possíveis.
Que lendas contariam se moles e flexíveis línguas se apoderassem da sua carcaça fria? Será o silêncio o bálsamo da eternidade? Ou será que o silêncio não é mais que um frágil termo inventado pela nossa, igualmente frágil, lógica?
Gargantas secas de quem não tem sede, que aceita a água apenas como rio passageiro que, eventualmente, mudarão de rumo.
De pedra são os anjos que vemos, empoleirados nas fachadas das nossas inflamáveis faculdades em Coimbra. Mostram-se em posição de voo, de asas abertas estando, no entanto, mármore fixamente agarrado ao frio do calcário.
Surdas aos apelos de Sócrates e Platão. Testemunhas surdas, cegas e mudas da queda dos anjos... quando Lúcifer, por não compreender porque tinham os humanos de sofrer para aprender, voou para nos dar a percepção divina, o seu pecado.

Pretérito mais que perfeito, sem saudades nem vontades.

E nós... pau de dinamite do mundo, energia que expande em todas as direcções, continuamos dependentes das rochas e a elas voltaremos...
Feldspatos involuntários de crenças ou vontades futuras.

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